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diálogos, propuestas, historias para una Ciudadanía Mundial

Soja e concreto

Luc Vankrunkelsven

05 / 2005

Agora ele está realmente indo longe demais: qual pode ser – em nome dos céus – a relação entre concreto e soja?!

Mas deixe-me tentar?

Na terra dos belgas, o ‘lobby’ do concreto é um dos mais fortes. Há outros, como o lobby do cobre, com seus interesses de mineração em Katanga, no Congo. Enquanto um deles é responsável pelo excesso de fios de cobre sobre os trens elétricos, o outro é responsável pelo excessivo uso de concreto nas obras públicas.

Os pesados fios de cobre são uma das causas do constante problema de atrasos no transporte ferroviário nos dias de frio ou calor excessivos. Há décadas, o concreto nos serve com pontes inúteis e outras obras de arte para o livro anual de gafes.

Um pequeno mergulho na história recente

Na década de 50 do século XX, foi construída a primeira rodovia de concreto: Antuérpia - Luik. Foi o início da ‘criatividade’ para vender o máximo de concreto possível, cujo auge foi na década de 70. Principalmente o ministro De Saeger contribuiu de maneira indelével para ‘pavimentar’ esta rodovia: durante anos ele foi chamado de ‘Betonneur van België’ [‘o concreteiro da Bélgica’]. ‘Graças’ a este ministro de obras públicas, a Bélgica se tornaria um entroncamento de rodovias gratuitas, um verdadeiro ponto ‘luminoso’ no mapa rodoviário europeu. Literalmente: em imagens feitas por satélite, nosso pequeno país logo se destaca como um ponto luminoso. Rodovias, pontes, postes de iluminação – tudo feito com nosso querido concreto, ainda que as rodovias, às vezes, sejam gradativamente substituídas por asfalto e os postes de iluminação por modelos de metal.

A expansão impressionante da malha rodoviária na Bélgica coincidiu, em Bruxelas, com a ruína do império de demolição e construção civil de Van den Boeynants. Com seus projetos megalômanos na muito sofrida capital, ele transformou algumas das famílias de concreteiros de Bruxelas nas potências (inter)nacionais que são atualmente  (1).

Do abrigo antinuclear para a esterqueira

Enquanto nossa paisagem se saturava e atraía cada vez mais asfalto, foi criada uma nova necessidade. A década de 80 foi o período da guerra fria: nós estávamos no meio da corrida armamentista. Enquanto os mercadores de concreto construíam abrigos no Golfo, em nosso próprio país os tão necessários abrigos antinucleares tornarem-se o local ideal para gastar concreto. Quando esta ameaça se tornou menos atual surgiu, na década de 90, a ameaça do esterco.

E assim chegamos à ligação: ‘soja e concreto’. Ao invés de barrarmos a enxurrada de matérias-primas para ração animal – encabeçadas por soja – esperava-se que a solução estivesse na armazenagem do esterco! Os agricultores foram convencidos a construir esterqueiras. Gradativamente, a armazenagem de estrume em esterqueiras de concreto se tornou obrigatória. Aliás, não é a única construção de concreto na propriedade agrícola moderna: galpões de concreto, pisos de concreto. E não vamos esquecer o revestimento de concreto dos silos forrageiros para silagem, irmã gêmea da soja, feita com pés de milho ‘nacionais’. Agricultores e agricultoras cercados de concreto. Graças ao armazenamento de esterco, o sistema de desperdício pôde ser mantido. A partir da década de 60, os ciclos ecológicos foram rompidos. Apesar da crise energética de 1973 e de 1979, continuamos a gastar combustível para transportar – por todo o globo – as matérias-primas para ração animal, depois a carne produzida e, por fim, o esterco ‘in natura’ ou na forma de adubo orgânico granulado.

Das esterqueiras em Flandres ao ‘trem-bala’ europeu

No final da década de 90 a paisagem rural estava saturada de concreto. Mas não se desesperem: o ‘lobby’ está sempre se antecipando. Enquanto, há anos, está sendo usado mais concreto que o necessário em grande número de megaprojetos, vêm aí também as grandes obras para construção da ferrovia para o trem de alta velocidade, o ‘trem-bala’. Em 2005, quem percorrer a rodovia Antuérpia-Breda, poderá ver, com seus próprios olhos, a diferença entre os trabalhos realizados na Holanda e na Bélgica. É visível que os belgas conseguem gastar muito mais concreto na construção da ferrovia para o ‘trem-bala’ internacional do que a Holanda. É só prestar atenção.

E por que será? Será que estou vendo fantasmas? Será que é por acaso? Ou será que há uma lógica invisível – espertalhona – por trás disso? Uma ‘Mão Invisível’?

O cúmulo é o túnel com quilômetros de extensão nos arredores de Antuérpia, cruzando a Peerdsbos [Floresta dos Cavalos]. Enquanto a rodovia continua – imperturbável – a emitir sua poluição sonora nesta floresta, exige-se que o ‘trem-bala’ cruze a mesma floresta em silêncio. Alguém entendeu? Será que os movimentos ambientalistas e o ‘lobby’ do concreto não se tornaram aliados objetivos nesta louca alternativa?

As propriedades agrícolas estão saturadas de concreto. Será que as obras do ‘trem-bala’ para a Holanda e para a Alemanha são as novas ‘esterqueiras’ de nosso orgulho nacional?

Você também está curioso para saber a quem – após 2010 – será imposto o derramamento de concreto no quintal?

 

 

1 Brukselbinnenstebuiten [‘Bruxelas do avesso’] (www.brukselbinnenstebuiten.be) fez, e continua fazendo, um excelente trabalho de desmascaramento. Leia, entre outros ‘Eurotaurus en andere verhalen uit de hedendaagse Brusselse legende’ [O ‘eurotauro’ e outras histórias da mitologia de Bruxelas’], Bruxelas, 1993.

Palabras claves

soja, transnacional, estrategia de desarrollo


, Bélgica, Brasil

dosier

Navios que se cruzam na calada da noite: soja sobre o oceano

Notas

Esse texto foi tirado do livro « Navios que se cruzam na calada da noite : soja sobre o oceano » de Luc Vankrunkelsven. Editado pela editora Grafica Popular - CEFURIA en 2006.

Fuente

Libro

Fetraf (Fédération des travailleurs de l’agriculture familiale) - Rua das Acácias, 318-D, Chapecó, SC, BRASIL 89814-230 - Telefone: 49-3329-3340/3329-8987 - Fax: 49-3329-3340 - Brasil - www.fetrafsul.org.br - fetrafsul (@) fetrafsul.org.br

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