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Arte-educação : a divisão de uma realidade indivisível

Rute RIOS

05 / 1995

É uma pena que eu não tenha argumentos teóricos suficientes para fundamentar a afirmação que faço no título desta ficha. Afinal, não sendo artista e, ainda, sendo uma pessoa condicionada a pensar sobre educação pelo viés da ciência, tenho me dedicado pouco à leitura do que existe de elaborado nesta área. No entanto, como tudo na vida, o que lamentamos tem sempre um lado positivo, que poucas vezes conseguimos enxergar. E o positivo, neste caso, é que posso fundamentá-la lançando mão de outros recursos que utilizo para conhecer; que é distinto e complementar daquele que, preponderantemente, me formou e conformou: a razão. Ao afirmar que arte-educação é uma realidade indivisível minha argumentação está baseada apenas na experiência de aprendizado que fiz no decorrer da vida pelo que foi expressado, por mim e por outros, através das artes nas suas diferentes linguagens. Um aprendizado que se deu, sobretudo, pela via do percebido, do sentido, do intuído.

Quando penso sobre isto a pergunta que, de imediato, me coloco (viciada que sou em estar sempre promovendo a crítica)é a seguinte: por que, durante minha formação, me foi ensinado que o caminho para a aquisição de conhecimentos sobre o mundo depende apenas da razão? De fato, embora isto nunca tenha se explicitado com toda esta clareza, o que a escola - instituição privilegiada na "transmissão do saber"- sempre deixou claro é que a manifestação dos homens através da arte era apenas mais um dado para completar minha formação. Uma coisa mais ou menos assim: saber sobre as artes, seus autores, suas produções, me faria mais "chique", mais requintada, além de me possibilitar um "refresco" na árdua tarefa de assimilar o que foi produzido pela humanidade como saber. Assim, o tempo de escolarização era dividido na grade curricular de forma a equilibrar as matérias "sérias" com aquelas consideradas "menos sérias", aquelas complementares, "de verniz". Esta realidade, infelizmente, não foi até hoje alterada, apesar das tentativas de algumas escolas (as chamadas escolas alternativas privadas ou públicas)no sentido de trabalhar a aquisição do conhecimento reintegrando o que a cultura escolar dividiu: o saber produzido pelo uso dos sentidos e o saber produzido pelo uso da razão. No meu modo de ver, esta é uma falsa oposição (como tantas outras que estão em uso pelo mundo). De fato, razão e intuição/sensação se interpenetram quando pensamos e elaboramos, seja no campo da ciência, seja no campo da arte. Saindo da crítica à escola, volto ao anunciado no início do texto.

O que quero comunicar nesta ficha são elementos colhidos a partir da sensibilidade, da intuição, que foram produzidos ao longo da minha experiência como alfatetizadora de adultos. Nela, a indivisibilidade da arte/educação se evidenciava nas mais diversas circunstâncias. O recurso à oralidade, por exemplo, que é a forma privilegiada de expressão do não letrado, trazia aportes fundamentais para o aprendizado da leitura/escrita. Falar a sua palavra carregada de sua experiência de vida fazia emergir sentimentos, sensações, lembranças e saberes sobre o mundo. A expressão pela dramatização, outro recurso rico para falar sobre o que vivemos, sentimos e pensamos, mobiliza as emoções e desejos dos alunos impelindo-os a ter "estalos" diante de dificuldades que consideravam insuperáveis.

Tudo isto - se acredito de fato na idéia de que a alfabetização é mais ampla do que o mero decifrar da combinação de signos -, é parte do processo de aprender a ler/escrever. É neste sentido que compreendo o conceito segundo o qual a apreensão do código escrito e a leitura do mundo são inseparáveis.

Um fato que muito me ajudou a construir essa visão foi perceber a impossibilidade de administrar todos os mecanismos que utilizo, assim como os dos meus alunos, no ato de aprender. Como professora, formada dentro dos moldes da racionalidade vigente, eu carrego (e supervalorizo)o conhecimento produzido no interior de disciplinas das áreas da pedagogia e da psicologia que me oferecem métodos, fundamentados em pesquisas, que me dão a ilusão de poder controlar os caminhos percorridos por mim e pelos meus alunos no movimento de aprender. Mas, no dia-a-dia do contato com os alunos implementando uma proposta, onde o uso de linguagens expressivas diversificadas (oralidade, desenhos, dramatizações, etc)eram um princípio fundamental, a observação sensível me fez descobrir, no concreto, a existência de caminhos de aprendizagem diferentes daqueles que a pesquisa acadêmica já identificou, conceituou e socializou. Este conhecimento, sem dúvida, tem sentido. Mas, não é só isto. É isto e aquilo.

Essa conversa puxa muitas outras e se entro nelas vou fazer uma ficha quilométrica. Mas não posso resistir à tentação de provocar o leitor a se candidatar para escrever sobre este mesmo tema, deste ou de outro ponto de vista. Minha provocação é a seguinte: nós, educadores, temos muita dificuldade em refazer essa postura, ou seja, reintegrar o que foi assimilado como dividido. E os alunos, como vivem isto? É possível reverter esse quadro? De que forma?

Paro por aqui com a ambição de que nós, nessa troca de idéias, possamos juntar elementos para construir uma pequena teoria sobre esse assunto. Afinal, não é só no espaço da academia que se produz teoria. Quem está com a "mão na massa" pode e deve produzi-la (Cleide, muito apropriadamente, lembrou-me da importância de dizer isto, nessa ficha).

Aí, a bola está no meio do campo! Quem se atreve a chutá-la para a próxima jogada?

Palabras claves

educación, educación popular, educación alternativa, sistema educativo


, Brasil, Rio de Janeiro

Notas

Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.

Fuente

Texto original

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brasil - sape (@) alternex.com.br

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