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Nova Holanda: Trinta Anos De Açao Cidada -1-

Lea TIRIBA, Fernanda VENEU

12 / 1994

Os moradores da favela de Nova Holanda, uma das doze comunidades do complexo da Mare, nunca tiveram o que podemos chamar de vida facil. Precisaram, inclusive, enfrentar situacoes traumaticas, para sempre guardadas na memoria. A primeira foi a maneira como chegaram ate o local que ocupam hoje, a beira da Avenida Brasil - a carotida da cidade, meio de contato com vias interestaduais e intermunicipais. Jose Carlos de Souza, diretor financeiro da Cooperativa que funciona em Nova Holanda, diz lembrar-se ate hoje da violencia com que ele e os demais moradores foram retirados dos morros em que moravam e transferidos para os terrenos que ocupam hoje. Isto aconteceu na decada de 60, quando o entao governador Carlos Lacerda promoveu a desocupacao dos morros da cidade, sem garantir sequer a posse dos terrenos para os moradores, que nao podiam modificar a casa de madeira que receberam para morar.

Calcamento e luz so chegaram na decada de 70 e mesmo assim foram frutos da luta da comunidade, que foi aprendendo a se organizar para conseguir seus direitos. E desta organizacao que nasce a Associacao de Moradores, que teve suas primeiras eleicoes gerais em 84. Atraves dela, a comunidade pode fazer outras conquistas, como o financiamento da Caixa Economica Federal na reconstrucao em alvenaria de 253 casas de madeira.

Mas este numero nao era correspondente ao de todas as casas existentes na comunidade. O restante dos moradores continuava em habitacoes frageis que ja estavam se deteriorando. "Mesmo quem tinha uma situacao financeira melhor nao se arriscava a reformar sua casa ou reconstrui-la com tijolos. Nao tinhamos titulos de propriedade", conta Jose Carlos, lembrando que todos temiam ser, a qualquer momento, removidos outra vez.

Com o governo Sarney, surgiu, em 87, o programa ’Fala, Favela!’, que oferecia as populacoes pobres um ticket-construcao: era uma quantia irrisoria, que, se tomada individualmente, seria insuficiente para construir uma casa. Mas os moradores de Nova Holanda chegaram a uma conclusao: se juntassem os tickets individuais teriam o capital de giro necessario para a formacao de uma cooperativa. Trezentas familias queriam participar, mas foram selecionadas 60 de acordo com os criterios de necessidade, situacao financeira, numero e idade de dependentes. Em cada familia inscrita deveria haver algum com experiencia em construcao civil, para orientar os mutiroes de construcao.

Com o passar do tempo, houve a necessidade de que as familias contribuissem com 20% do salario minimo. Era preciso engordar o capital de giro da cooperativa, que rapidamente gerou empregos na propria comunidade: alguns trabalhadores foram contratados para produzir os blocos - elementos basicos na construcao das casas.

Para aprender como eram feitos os blocos de cimento, representantes da Associacao e da Cooperativa foram a Baixada Fluminense, onde ja funcionava uma cooperativa nestes moldes. Descobriram que o uso dos blocos de cimento barateia em cerca de 20% a construcao de uma casa: usa-se menos vigas de ferro, menos areia e menos poeira, alem de diminuir a necessidade de mao-de-obra.

Para gerenciar a cooperativa que ganhou o nome de Cooperativa de Moradores e Amigos da Nova Holanda (COOPMANH), os moradores tiveram a ajuda da ONG Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubiao e de engenheiros e arquitetos da Santa Ursula (universidade particular na zona sul da cidade). Foi construido um galpao onde ficaria a fabrica, com as maquinas financiadas a fundo perdido pela Caixa Economica Federal. Paralelamente a este movimento, surgiu a luta para garantir a posse do terreno, a fim de que tudo o que se conseguisse nao fosse tirado dos moradores.

A principio administrada por um amigo de Jose Carlos que sabia como faze-lo e foi ensinando aos demais, a cooperativa funcionou sem problemas ate 1992. Tinha setecentos associados e produzia cerca de sessenta mil blocos por mes. O preco dos blocos de cimento da cooperativa era utilizado como base para lojas de materiais de construcao.

Palavras-chave

cidadania, solidariedade, favela, moradia precária, luta contra a pobreza, organização comunitaria


, Brasil

Notas

Entrevista com Jose Carlos de Souza, coordenador do comite Complexo da Mare. Tel. da COOPMANH: (021)560-1647.

Entrevista com DE SOUZA, Jose Carlos

Fonte

Relato de experiencias ; Entrevista

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