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Uma palavra sobre o analfabetismo no Brasil

Alexandre AGUIAR

07 / 1994

Apesar dos milhares de anos transcorridos desde a invenção da escrita (por volta de 3.000 anos antes de Cristo), ainda hoje existem muitos analfabetos no mundo. Segundo a UNESCO, existem hoje, mais de 100 milhões de crianças no mundo inteiro que se encontram fora da escola. Além, é claro, dos adultos que nunca estudaram. O total de analfabetos no mundo, de acordo com esta entidade, é de 900 milhões de pessoas.

O Brasil integra este quadro de forma significativa. Calcula-se que existem hoje, mais de 48 milhões de jovens e adultos analfabetos. Isto sem levar em conta que as pesquisas realizadas na época das eleições presidenciais de 1989, mostravam que 68% dos eleitores brasileiros, eram analfabetos, semi-analfabetos ou não chegaram a terminar a quarta série primária. Dentre eles, 51 milhões e 653 mil Brasileiros, não souberam assinar o próprio nome na hora de votar, ou o fizeram com imensa dificuldade.

A maior parte deste contingente é formado por nordestinos. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, o Nordeste possui 52,37% do total de analfabetos do Brasil.

Embora este quadro nada tenha de novo, pouco ou nada tem sido feito por parte do Estado para superá-lo. Poucas são as turmas de supletivo que agonizam na rede oficial de ensino, reforçando tal estado de coisas, apesar da educação estar presente na maioria dos discursos políticos.

Estes vão desde os projetos de instituições religiosas com pretensões de evangelizar as classes populares, passando por iniciativas de empresas, que têm como objetivo maior, tornar o seu trabalhador mais produtivo, até iniciativas de sindicatos e partidos políticos que trazem um objetivo de conscientização que, por vezes, é revestido de um autoritarismo que nada tem a ver com a emancipação das classes populares. O que estes trabalhos possuem em comum, na maior parte dos casos, é não considerar estes alfabetizandos em suas situações de vida prática e em suas reais necessidades. O trabalho, muitas vezes, fica reduzido a uma imposição de fora para dentro, sem a participação de seus atores principais. Assim, sendo, o que acontece, na maioria das vezes, é que o adulto não alfabetizado resiste a este tipo de trabalho e quase sempre abandona o curso logo no início. Este fato leva os seus organizadores a analisarem-no como falta de interesse das classes populares.

Há iniciativas geradas no seio de algumas ONGs, que contrariando o conceito tradicional de alfabetização, priorizam a construção de uma melhor qualidade de vida. Nesta linha, viabilizam às classes populares, a autoria do processo em parceria com o professor num trabalho democrático e cirativo, um trabalho que visa à transformação social sem o aspecto aprisionante da conscientização autoritária.

De qualquer forma, por mais que existam algumas iniciativas que tenham por objetivo fazer emergir um novo poder das classes populares a partir do resgate da cultura e do saber popular, estas, certamente, são insuficientes para solucionar a questão do analfabetismo no Brasil e da exclusão, principalmente, no que diz respeito à falta de participação política e social.

Palavras-chave

educação popular, exclusão social, cultura popular


, Brasil

Notas

Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.

Fonte

Texto original

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brasil - sape (@) alternex.com.br

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